quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Sobre casa cheia

Crédito da foto: Tatiana Cruz


Sou cria de casa cheia, de panelas fumegantes, de forno quente, de correria de criança. Talvez seja por isso que me alegra tanto ver minhas filhas trazendo as filhas e os filhos dos meus amigos para junto de nós.
Tá certo que dá barulho, dá trabalho, dá tensão.
Tem que ficar ligada e, ao mesmo tempo, deixar rolar. Uma equação dificílima - quase um vestibular para o enfrentamento de qualquer desafio futuro. Depois que me vi em muitas dessas, comecei a tirar de letra tanto bicho-papão... Não que ser mãe seja garantia de ser gente boa - longe disso. No meu caso - e só posso falar de mim mesma -, a maternidade só assegurou um mergulho brutal no que é simples e essencial. E posso dizer que, para mim, foi um bálsamo. Sai da corrida (para onde? para quê) pra sentar e olhar formigas carregando folhas, admirar flores azuis, fantasiar sobre abelhas "assassinas". Parei de correr. Perdi meu lugar. Ganhei eu mesma - todinha de volta pra mim.
Mas o que toda essa conversa fiada tem a ver com a foto aí de cima? É que eu, especialista em casa cheia e barulhenta, acho que a melhor maneira de iniciar uma criança nos prazeres da cozinha é sacar da gaveta - ou da internet - uma receita de biscoito. Uma receita dessas práticas, com ingredientes que se encontram com facilidade na despensa e que demandam rolo, cortadores nos mais diversos formatos e mão na massa. Essa, de gengibre, já dava água na boca antes mesmo de perfumar minha cozinha, quando Angelina Ballerina pulava da prateleira para dançar na nossa TV. Agora está aqui, enchendo dois vidros.
Clara e Elena fizeram as honras da casa e introduziram a Mariah e a Dora na folia. Além do lanche depois da escola, a brincadeira rendeu farinha por todo os lados - e o peito estufado das confeiteiras exibindo a criação pra todo mundo.
Agora que todo mundo já sabe que eu amo biscoitos, por favor, dividam mais ideias comigo. Preciso diversificar o repertório - porque a casa enche, ainda bem!

Biscoitos de Gengibre

Ingredientes
- 1 xícara de chá de amido de milho
 - 2 xícaras de chá de farinha de trigo
- 1 xícara de chá de açúcar
- 2 colheres de chá de bicarbonato de sódio (eu usei como manda a receita, mas confesso que acho muito, deixa o biscoito um pouco, vou reduzir nas próximas)
- 1 colher de chá de canela em pó
- 1/2 colher de chá de sal
- Gengibre ralado a gosto
- Noz-moscada (Não tem na receita, mas coloquei 1/4 de colher de chá porque adoro)
- Se tivesse cravo-da-índia em pó, colocaria uma pitada também. Essa especiaria também é coisa minha)
- 1 e 1/2 xícara de chá de margarina
- 1/2 xícara de chá de açúcar de confeiteiro para polvilhar (pode ser também uma misturinha de açúcar com canela)

Modo de Preparo
1) Misture todos os ingredientes até criar ponto de massa;
2) Abra a massa numa superfície enfarinhada com a ajuda de um rolo até ficar bem fininho;
3) Com a ajuda de cortadores de diferentes formatos, crie seus biscoitos e coloque para assar em uma forma untada por uns 10 minutos mais ou menos. Mais uma vez o tempo de forno é variável. O ideal é espiar para ver se está dourando. Se passar do ponto, fica muito duro, além de ruim, é claro.
4) Depois de tirar da assadeira, polvilhe com açúcar de confeiteiro ou com a mistura de açúcar e canela.

Nada mal para um café da tarde, não é?


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domingo, 13 de outubro de 2013

Pão quente e manteiga fazem um lar

Crédito da foto: Tatiana Cruz
 
Aqui em casa não pode faltar farinha e fermento de pão. Pão quente e manteiga fazem um lar. E esse aqui da foto é ainda mais especial, porque leva aveia e mel e farinha de trigo integral. É bom e fácil de fazer. Fica só duas horas descansando e dobrando de tamanho, tem uma bela aparência, crocante por fora e fofinho por dentro e o sabor do mel, leve, levinho, sobressai-se ao final. Não existe nenhuma desculpa para deixar essa receita parada. Experimentem!

Pão de Aveia e Mel

Ingredientes:
- 1 e 1/3 copo de água (320 ml)
- 1 e 1/2 colher de sopa de margarina
- 1 e 1/2 colher de chá de sal
- 2 colheres de sopa de mel
- 2/3 copo de aveia em flocos
- 2 e 1/2 copos de farinha de trigo
- 1 copo de farinha de trigo integral
- 2 e 1/2 colheres de chá de fermento biológico seco

Modo de preparo:
-Misturar tudo, sem medo. Com vontade. Não precisa sovar muito. Se bobear nem precisa botar a mão na massa. Eu boto, mas a mistura vai ficar mais mole mesmo. Depois deixe descansar por no mínimo duas horas. Quando dobrar de tamanho, coloque numa forma untada e enfeite com aveia em flocos. No forno fica uns 40 minutos, até ficar douradinho por fora.

Fácil, não?

domingo, 15 de setembro de 2013

O idioma da espera ou para comer uma boa lasanha, é preciso paciência

                                                    Foto da internet. Não achei o crédito.


Se perguntarem por mim
Digam que estou atarefada
Fazendo bolos
Sovando pães
Cheirando a carne
Amassando o alho com a mão
Vou tirar uma por uma as ramas do alecrim
Provar o sal
Encorpar o molho
Engrossar o caldo
Vou adoçar o creme
Derreter o queijo
A cozinha tem o tempo meu
Nada sai bem sem o aguardo de cada hora
Falamos a mesma língua
O idioma da espera
Num silêncio que respeita a minha solidão

Se perguntarem por mim e eu não responder
É porque morri entre as panelas
Minúscula como um grão de pimenta
Que ninguém percebe até provar.

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Tem gente que cozinha porque está feliz - vai receber visitas. Outros cozinham por necessidade mesmo. Comigo não é diferente. Mas também cozinho quando estou triste. E, pra dizer a verdade, não vejo mal nenhum em estar triste. Tem sempre algo que sofre. Uma coisinha qualquer que volta quando as horas calam pra conversar com a gente.
Não é de agora - já faz um tempo - que eu aproximei a tristeza de pequenos prazeres para torna-la mais doce, uma forma de melancolia, está certo dizer. Nessas horas em que a noite fica gorda, gigante de recalques, uma matraca inconveniente, fuço nas músicas e nas receitas e me deixo levar. Até onde? Provavelmente até o silêncio de mim.

Assim nascem pratos suculentos. Quentes. Ricos. Como este aqui, furtado da minha mãe e adaptado nessas horas de busca e espera:
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Lasanha de frango

Ingredientes:

Molho Vermelho
- 500 gramas de peito de frango desfiado
- 1 cebola
- 1 dente de alho
- Alecrim
- Pimenta do reino preta moída
- Sal
- 6 tomates italianos pelados ou molho pronto mesmo ou os dois

Molho Branco
- 1/2 cebola
- 1 dente de alho
- Sal
- Pimenta
- Noz-moscada
- 2 colheres de manteiga sem sal
- 3 ou 4 colheres de sopa de farinha de trigo
- 1 e 1/2 copo de leite ou mais

Montagem
- Massa de lasanha
- 400 gramas de queijo mussarela
- 200 gramas de presunto magro

Modo de preparo
1 - Prepare o molho vermelho, fritando o alho, a cebola, o frango, com todos os temperos. Quando estiver bem refogado, largue o tomate e deixe encorpar. Reserve.
2 - Para o molho branco, frite o alho e a cebola bem picados na manteiga. Tempere com sal e pimenta. Perfume - sim, essa é a palavra exata - com a noz moscada. Coloque uma colher de farinha de trigo e vá mexendo rapidamente pra não embolar, despejando o leite, em pequenas porções. Largue mais farinha e mais leite, sempre mexendo pra não deixar embolar. Não tem muita regra. Cuide para que o molho fique bem encorpado, colocando mais farinha ou mais leite para chegar à proporção ideal. Depois de pronto, reserve.
3 - Monte a lasanha. Aí, cara, eu nunca sigo a mesma ordem da anterior. Já disse outra vez, por aqui, que odeio regras na cozinha. Meu cérebro certamente vai cometer um deslize de sequencia, quebrando a rotina da receita. Hoje, por exemplo, coloquei primeiro o molho vermelho, depois a massa da lasanha, depois o molho branco, depois o presunto magro, depois o queijo, depois a massa, daí já mudei, colocando o presunto, o queijo, o molho branco e o molho vermelho por cima e, pronto, ufa, forno, 30 minutos, mais ou menos, e mesa farta e alma mais leve... As horas voltam a ser barulhentas fora de mim. 

Ah, essa é uma receita que afronta a pressa. Tem que cozinhar o frango, desfiar o frango, aguardar um molho, mexer sem parar o outro, montar o prato, deixar no forno. Viu? Era isso. Fui.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Muffin de chocolate, maçã e granola ou Um jeito de preencher as horas

 
Crédito das fotos: Tatiana Cruz
 

Existem muitas formas de se preencher as horas, mas cozinhar, para mim, é uma das melhores. Quando a gente é mãe, a casa é barulhenta e tudo ao redor lembra quase uma tribo, testar receitas é um passatempo coletivo - tanto no durante quando no depois, pelo menos por aqui. Outra coisa que me anima nesse assunto é que eu consigo liberar a minha criatividade. É como se houvesse uma desculpa oficial para quebrar regras, fazer do meu jeito, dar meu toque.

A deixa para esse muffin aqui de cima veio de um presente lindo que ganhei da minha amiga Julia Simões e de sua turma, sábado passado, no meu aniversário. Sou apaixonada por utensílios domésticos, e a dona Julia apareceu na minha festa com uma sacola gigante com uma forma de minicakes da Le Creuset. Surtei. E não deu outra: tirei esse inverno rabugento pra dançar e fizemos do frio mais uma fornada de coisas deliciosas que fazem tudo ficar muito melhor.

Para completar, minha parceira, a Clara, caiu de cama, derrubada por uma febre. Na lida de cuidados que a coisa exige, os muffins quentinhos foram como um remédio bom. Fiz na segunda, repeti hoje, com novos ingredientes, rendeu lanche da escola, sobremesa e almoço para alguns. Eu adaptei, fiz do meu jeito e ficou sensacional. Confiram aí, testem, reinventem e depois me contem.

Muffins de chocolate, maçã e granola

Ingredientes:
- 1 gema
- 1 clara batida em neve
- 1 xícara de açúcar
- 1/2 xícara de chocolate em pó
- 1/2 óleo
- 1/2 água fervente
- 1 xícara de farinha de trigo peneirada
- 1 colher de chá de fermento em pó
- 1 maçã fuji cortada em cubinhos, molhada com suco de limão e misturada a 1 pitada de noz-moscada e 1 colher de chá de canela em pó
- granola para enfeitar

Modo de preparo:
- Misture a gema do ovo com o açúcar e o chocolate em pó, acrescente o óleo e a água fervente. Peneira a farinha e adicione à massa. Depois junte o fermento e a maçã, preparada naquele caldinho de limão e especiarias. Incorpore a clara em neve na massa delicadamente para deixar a mistura aerada.
- Preencha a forma de cupcakes já untada e enfarinhada com uma colher de sopa da massa. Cuide para deixar espaço para que a mistura cresça. Depois enfeite com granola e coloque para assar. Mais uma vez não tenho ideia de quanto tempo é preciso deixar no forno. Cuide para ver se a mistura está mais firme e faça o teste do palito. Depois, meu Deus, é só passar o café ou preparar o chá e preencher o resto das horas com calor na alma.







quinta-feira, 25 de julho de 2013

Panquecas americanas ou uma licença poética


                                          Isso aqui é waffle, eu sei. A panqueca é diferente
                                                    na forma, mas o sabor é bem parecido

                                                                           Vó Ritta


Comida é um troço absurdo.
Não falo da comida e dos seus nutrientes e do saciar da fome que ela provoca. Não. Falo que a comida é um absurdo porque ela mata outra fome - a da memória.
Onde a gente busca a vó da gente quando ela já se foi e no endereço dela há uma outra família? Onde?
Hoje eu misturei farinha, açúcar, ovos, leite, manteiga, sal e fermento e a dona Ritta surgiu ali. Não esperava. Porque a receita era de uma panqueca americana e a minha expectativa era recriar, na melhor das hipóteses, aquele clima calórico dos cafés da manhã da minha adolescência tardia além-mar. Mas não. A história de hoje no fogão me levou bem mais longe e, por mais que o resultado da experiência tenha sido uma réplica perfeita da receita dos States, me permito uma licença poética. Entre nós, aqui, o que fiz hoje foi a legítima waffle da vó Ritta. E estamos conversados.
Aposto que a tia Mari e a tia Drica vão me compreender. Sacam aquele cheirinho da massa tostando na frigideira? Lembram da gurizada ao redor das "wafflas" deixando a vó atacada por não respeitarem a conclusão da tarefa? Conseguem ficar com água na boca só de imaginar o doce de leite espalhado na massa ainda quente, especialmente quando alguém roubava o doce antes que a vó percebesse?
Isso tudo veio hoje.
A vó das diferentes caras. Da cara zangada quando a gente deixava a mangueira do pátio aberta. Da cara irritada com muitas mãos se intrometendo na cozinha. Da cara cansada, sim, e quem não pode ter cara cansada depois de passar 23 anos da vida entre grávida e lactante? E da cara feliz. Sim, ela tinha tanto dente no sorriso porque era uma leoa dengosa que gostava de mimo.
Eu fiquei sem a minha vó das "wafflas", mas ela voltou em meio a uma peripécia americana. E encheu a minha casa. E me senti um pouco vó. Vó dela também, do lado de lá. A minha vó que foi ficando cada vez mais doce com o passar do tempo, a minha vó cujos olhos foram azulando. Será que todos os olhos azulam no final da jornada? Vó Ritta, deixa eu dizer, aqui, entre nós, adoro teu nome. E adoro tua "waffla".

Receita

Ingredientes:
- 1 e 1/4 de xícara de farinha de trigo
- 2 colheres de sopa de açúcar
- 1 pitada de sal
- 3 colheres de fermento químico em pó
- 1 pitada de canela (a minha licença poética)
- 2 ovos
- 1 xícara de leite
- duas colheres de sopa de manteiga derretida

Modo de fazer:
- Coloque a mistura dos ingredientes dentro de uma jarra e despeje numa frigideira ANTIADERENTE poderosa de modo que forme uma bola no centro. A massa fica mais líquida mesmo. E a panqueca fica gordinha, digamos assim. Note que bolinhas vão subindo na massa. Isso significa que está cozinhando. Com uma espátula de silicone (sim, para não riscar a poderosa frigideira antiaderente), veja se a massa tostou. Assim que ficar marronzinha, vire do outro lado para completar a coisa toda. A receita rende 8 unidades. Depois dá para cobrir com geléia, mel, manteiga ou doce de leite. Frutas fazem uma ótima companhia também.

Era isso. Tchau.

sábado, 29 de junho de 2013

Cookies, inverno e controle de qualidade

Crédito da foto: Tatiana Cruz


Quem me conhece - e conhece a Clara - sabe que não somos do time dos que amam o inverno. Ao contrário. A gente faz cara feia quando vê que nublou e vibra como se fosse final de Copa do Mundo quando o sol resolve aparecer depois de dias e dias de chuva.
Mas seria muito injusto ignorar que o inverno tem uma coisa boa sim: as fornadas de receitas, acompanhadas de uma caneca de chá ou de café quentinho.
Hoje foi um dia assim, de exceção, de festejar o frio. Graças à receita de cookies, a cozinha cumpriu a missão de aquecer a casa inteira. Não foi nossa estreia com esse tipo de biscoito e, por isso mesmo, a produção ficou generosa nos quesitos quantidade, crocância e sabor.
Como a receita pede uso indiscriminado do forno, é legal restringir a participação da criançada à fase de mistura de ingredientes e ao controle de qualidade do chocolate - é sempre bom saber se estamos diante de uma barra de primeiríssima, sacam? Elena me garantiu que sim!
Querem testar aí? Então sigam-nos os bons.

Cookies de Baunilha com Gotas de Chocolate

Ingredientes
- 200 gramas de chocolate meio-amargo picado
- 3/4 xícara de margarina sem sal
- 3/4 xícara de açúcar mascavo
- 3/4 xícara de açúcar
- 2 e 1/4 xícaras de farinha de trigo
- 1 pitada de sal
- 2 ovos batidos
- 1 colher de chá de bicabornato de sódio
- 1 colher de chá de essência de baunilha

Modo de Preparo
Nem tem graça descrever esse tópico, porque não tem mistério. É só misturar tudo, muito bem e depois, com a ajuda de uma colher pequena, colocar bolinhas da mistura numa assadeira untada, mantendo-as a uma boa distância umas das outras. Cerca de 15 minutinhos no forno devem resolver a história.
Mas tenho algumas dicas: antes de colocar o bicarbonato na mistura, dissolva a substância na colher de essência de baunilha, para não haver chance de ficar amargor no sabor final. Outra sugestão é deixar várias assadeiras untadas antes de iniciar a receita, para tornar o processo mais acelerado. Sim, eu disse, VÁRIAS assadeiras. A receita de hoje rendeu um vidro imenso de biscoitos, que, para assar, vão precisar de espaço, mais ou menos uns 8cm de distância.  Por último: quando saírem do forno, os biscoitos estarão meio fofinhos no meio, ou seja, diferentes daqueles crocantes que a gente compra no supermercado. Mas creia: é um bom sinal - sinal de que os conservantes ficaram de fora da tua despensa, do lanche da criançada e daquele cafezinho clássico depois do almoço.

Agora, licença, que vou lá tomar meu chá.

Até.